Receba pelo seu conhecimento

Atualizado há 7 anos


Notas de dinheiroO trabalho humano pode ser classificado em três etapas: a pré-industrial, a industrial e a pós-industrial. As etapas do trabalho são definidas, não somente pela tecnologia utilizada, mas principalmente pelos métodos de trabalho decorrentes do emprego desta tecnologia. O desenvolvimento do ambiente de trabalho, incorporando as novas tecnologias aos hábitos de produção, é um processo demorado que requer amadurecimento. A etapa pré-industrial é originaria da metade do século XIX, sendo caracterizada pelo trabalho nos moldes anteriores à difusão do processamento da informação. Cada individuo executa as atividades que lhe são solicitadas, encaminha outras atividades conforme seus conhecimentos, participando de um ambiente informal de trabalho. À medida que as idéias de otimização e de produtividade foram tornando-se mais difundidas iniciou-se uma nova etapa, a chamada etapa industrial. Os líderes destas idéias foram Taylor e Ford no meio industrial. Cada indivíduo passa a ser encarregado de uma atividade elementar e são criados planos de carreira, trabalho padronizado e folhas de pagamento padrão. Esta atividade é executada inúmeras vezes sobre diferentes processos, documentos ou formulários (ver o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin). Nesta fase estão as atuais formas de publicação, anais de conferências, diversos tipos de publicações onde os maiores lucros são das empresas editoriais e não dos pequenos autores. Os grandes autores realmente ganham adequadamente mas os pesquisadores têm seus trabalhos publicados sem auferirem nenhuma retribuição finaceira, ver a crônica “Propriedade Intelectual: controle e liberdade“. Os pequenos autores ou as pessoas que detem um conhecimento interessante precisam encontrar uma forma de distribuir e receber por este conhecimento.O desenvolvimento da Web permitiu uma nova abordagem ao trabalho intelectual. O emprego desta tecnologia deu origem a uma nova etapa tornando possível, novamente, o trabalho individualizado. Esta etapa denomina-se pós-industrial. A mesma é caracterizada pela flexibilidade. Os dados são mantidos em bancos de dados e o acesso aos mesmos é realizado através de estações de trabalho interligadas em rede. Nesta estrutura uma pessoa trabalha no local que lhe é mais adequado. Surge, então, o desafio de quantificar o trabalho e como é realizar o pagamento individualmente. Em uma Sociedade da Informação o que deve ter mais valor é o Conhecimento. Neste caso cada pessoa deve ganhar proporcionalmente a quantidade e a qualidade do conhecimento que pode oferecer bem como em função da utilidade deste conhecimento possa ter para os usuários. A pessoa passa a receber de acordo com seu nível de conhecimento e de acordo com a sua capacidade de oferecer conhecimento útil. Este é O novo paradigma de pagamento pelo trabalho intelectual. Mas resta o problema de consolidar esta nova forma de reconhecimento do valor da contribuição intelectual e de implantar formas viáveis de pagamento. Vejamos alguns exemplos práticos. Em uma notícia recente no Blog me referi a uma proposta interessante, não sei se funciona nem estou fazendo propaganda comercial do serviço, o que me interessa é a proposta: um pagamento pequeno, mas multiplicado por um número potencialmente muito grande de acessos. Aquele site está propondo o pagamento pela redação de resumos. Há mais tempo havia me referido a um site da Experts Exchange que oferece uma ótima oportunidade de encontrar a solução para problemas de instalação, programação ou debugging de sistemas. Este é um site que permite a discussão de assunto e a apresentação de soluções técnicas. site oferece boas respostas e quando um especialista (isto é: você) atinge cerca de 12 respostas, aceitas pelos consultantes, passa a receber a qualificação de especialista: Certified Expert. Alguns dos níveis são: {Master Level, Guru Level, Sage Level, Genius Level}. Esta certificação, em uma das áreas de competência, obtida de forma pública e independente de fabricantes, é um fator muito bom para a empregabilidade (ponha no currículo!) e serve como porta de entrada (apontadores) para o acesso ao seu site, aquele site onde você oferece os serviços pagos. Por outro lado a empresa Expert Exchanges tem lucro com a venda de serviços Premium para pessoas ou organizações que necessitam de respostas rápidas e também com a propaganda.Poderíamos agrupar estes serviços em dois grandes grupos: (a) aqueles que pagam por acessos a fornecedores (propaganda) e (b) os que pagam por serviços de conhecimento. O primeiro grupo é o mais difundido, por exemplo este site é suportado (otimisticamente espero que isto ocorra em algum momento) pelos acessos às ferramentas de busca e aos anúncios do Adsense. Quanto mais atraente, atual, interessante e útil for o conteúdo de umsite mais leitores e mais receita será gerada. Imagino que a pré-seleção de consultas relevantes ao assunto da crônica seja útil para o leitor. É claro que um ambiente deste tipo deve oferecer vantagens para todos os participantes. O sistema de oferta de anúncios procura inferir quais são os anúncios mais adequados para um dado conteúdo de site; os anunciantes passam a ter acessos de pessoas mais interessadas no assunto; e, finalmente, os leitores do site recebem mais informações atualizadas sobre serviços ou produtos de seu interesse sem serem sobrecarregados com material desinteressante. Recentemente rolou uma discussão no PodCast sobre o assunto de pagamento por anúncios, O segundo grupo de serviços ainda está menos desenvolvido mas é o mais estimulante. Acredito que, no futuro, uma grande parte da remuneração dos profissionais liberais será gerada pela venda de conhecimento em pequenas quantidades para um grande número de usuários. A idéia central é pagar pequenos valores por pequenas quantidade de informação (em alguns casos podem ser grandes se o valor da informação for muito alto). Imaginem uma enciclopédia, você teria que pagar centenas ou milhares de reais por toda a enciclopédia mas se for possível comprar só um verbete por alguns centavos ou reais o valor total das vendas será, monetariamente, muito maior. O volume da receita se dá pelo grande número de acesso (vendas) e não por um pequeno número de vendas a um alto preço. Isto pode ser obtido pelo acesso a um grande conteúdo de informações adequadamente classificadas de forma a tornar facíl o a busca da informação desejada ou por sistemas de inteligência artificial que indicam ao usuário a informação mais adaptada ao seu interesse, estes são os sistemas de recomendação.Ainda existem problemas tecnológicos envolvidos neste segundo caso. No primeiro grupo de serviços, acesso a patrocinadores, os valores de centavos são agregados até formarem um total que seja comaptível com os mecanismos atuais de transferência de fundos. No caso do pagamento a pequenas porções de conhecimento intelectual surge o problema da pulverização de fornecedores e de custo em sistemas de transferência eletrônica de fundos como o PayPal. Aqui você pode ver uma entrevista com Max Levchin Co-fundador da PayPal. É necessária a capacidade de trabalhar com quantias muito pequenas. Talvez isto possa fer feito por pré-pagamento, como nos celulares e no Skype com a utilização da tecnologia voice-on-ip. Outro problema é o de como oferecer o conteúdo realmente de interesse para um determinado usuário? Alguém só estará interessado em acessar uma base de conhecimento, e ainda pagar, se os resultados atingirem as minhas espectativas. O ajuste fino e a recomendação personalizada de conteúdos são temas de pesquisa.Como conclusão é possível ver que está sendo iniciada uma corrida para permitir que as pessoas recebem pela venda direta de seus conhecimentos. Atualmente o que mais existe é o direcionamento de possíveis interessados para sites de serviços ou de produtos. O que espero é o desenvolvimento do pagamento direto de conhecimento tal como a oferta de contos na web, páginas especializadas em determinados assuntos, consultas diretas a especialistas. Este último estágio corresponde a uma Sociedade do Conhecimento pós-industrial e, de certa forma, é um retorno à Antiguidade quando as escolas eram matidas por filósofos individuais só que desta vez com um acesso universalizado.

(Acessos 119)