Estamos sendo olhados!

Atualizado há 7 anos


Estamos sendo olhados! ou Big Brother e Small Brother uma revisão da importância e dos problemas gerados pela disponibildade de dados pessoais na Web.
Há algum tempo (Jornal da Ciência e-mail 2869, de 05 de Outubro de 2005) foi publicada esta notícia no boletim da SBPC “CNPq envia carta aos bolsistas sobre a plataforma Lattes e possíveis fraudes”, incrível. Leiam este trecho:

“Há tempos que recebemos denúncias de que dados cadastrais de alguns pesquisadores são incorretos. A comissão já vem verificando essas denúncias, mas, mais recentemente, tem varrido, por amostragem, os dados cadastrais. Os resultados vêm revelando desde erros atribuíveis a simples descuido até erros mais sérios, alguns (felizmente poucos) aparentemente fraudulentos.    Os pesquisadores têm sido notificados desses descuidos enquanto a auditoria do CNPq tem cuidado dos casos de aparente fraude”.

No dia 27 de setembro deste ano o mesmo Jornal da Ciência publica: (JC e-mail 3110, de 27 de Setembro de 2006) “Professores da PUC(SP) são acusados de fraudar currículos”, vale a pena ler todo o artigo. Simone Iwasso escreve para “O Estado de SP”:

“Dois professores da Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP) são acusados pela própria direção da instituição de terem fraudado dados de seus currículos profissionais na Plataforma Lattes – sistema que agrupa informações acadêmicas e de experiência de trabalho de professores e pesquisadores do país, mantido pelo CNPq.Os problemas incluem falta de comprovação de graduação, de mestrado, de pós-doutorado, de bolsas de estudo, de número de orientandos, de publicações em livros e revistas e de horas contratuais prestadas à universidade”.    

Neste caso o que funcionou foi a pressão social, como os CV Lattes são disponíveis na web todos podem acessá-los e verificar a veracidade dos fatos ali registrados. Leiam este trecho:

        ‘A plataforma é um grande avanço, melhorou e evitou muita burocracia. No entanto, a idoneidade das pessoas é diferente, e sabemos que há fraudes. Há uma estimativa de que de 10% a 20% dos currículos de lá tenham problema. E todas as universidades e agências de fomento o usam como referência’, afirma Robson Mendes Matos, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e secretário da SBPC.

Ele conta que foi vítima de uma fraude.

“Descobri que um professor, para concorrer a uma bolsa, tinha colocado no currículo dele um trabalho de pesquisa que tinha sido orientado por mim. Fui atrás e hoje ele foi banido da plataforma”. (Jornal da Ciência)

Qual será o motivo para o sucesso do QUALIS, das avaliações abertas dos programas de Pós-graduação disponibilizadas pela CAPES, e do CV Lattes no Brasil? Estes dois sistemas são invenções brasileiras, pelo menos em meu conhecimento. Eu acredito que isto é o resultado de uma necessidade da Sociedade de ter diretrizes claras e públicas de avaliação. É claro que alguns gostam de reclamar da avaliação, normalmente quem é mal avaliado não gosta de receber um parecer negativo. Um dos mais claros exemplos deste comportamento foram os recentes fatos ocorridos no INSS quando médicos foram agredidos por não atestarem fraudes em licenças-saúde. Ouví no rádio que, a partir de agora, os atestados e demais documentos serão entregues pelo correio! Estamos no fundo do poço da integridade, ética e seriedade. Qual a solução? Para mim é clara: o controle social com a liberação mais ampla possível de dados, de avaliações e de critérios na Web. O CNPq e a CAPES têm sido campeões nesta abertura. Só assim a sociedade pode ter parâmetros melhores que a propaganda dos interessados. Seria bom se surgissem mais institutos privados de avaliação, então seria possível comparar os resultados. Na área da avaliação da Universidades e dos cursos universitários o Guia do Estudante da Editora Abril tem apresentado resultados muito compatíveis com as avaliações do MEC. 
Dai o nome desta crônica: “Estamos sendo olhados!”, e isto é bom! Todos nós acompanhamos os recentes fatos com as câmaras gravando cenas em hotéis… Precisamos saber que somos gravados dezenas de vezes todos os dias na vida normal. Nossas mensagem para as listas de discussão são públicas, o mesmo se passa nos Blogs. A única forma de termos sucesso, daqui para a frente, é sermos coerentes em nossas posições e ações, a fraude e a mistificação são logo descobertas. 
    Quando Orwell escreveu o famoso “1984” e criou o Big Brother (O Grande Irmão), no ano de 1949, certamente não fazia a menor idéia do conceito de complexidade de algoritmos. Os americanos tentaram uma versão mais recente com o projeto de espionagem denominado Echelon, com resultados que aparentemente não foram bons… A dificuldade é que o problema de fazer quase infinitos cruzamentos de dados não é computável em um tempo finito. Sem estas considerações teóricas, o personagem de Orwell termina no último parágrafo do livro fazendo a seguinte constatação:

“Levantou a vista para o rosto enorme. Levara quarenta anos para aprender que espécie de sorriso se ocultava sob o bigode negro. Oh, mal-entendido cruel e desnecessário! Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo! Duas lágrimas cheirando a gim escorreram de cada lado do nariz. Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograra a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão”.

Pelo que escrevi acima parece que também estou gostando Dele! Nada disto, o que eu gosto é do Pequeno Irmão, o Small Brother. Quem faz isto? Ora é simples, acho que todo o mundo que é da área de computação conhece o método de tratar problemas grandes e complexos: dividir para conquistar. Isto é o Pequeno Irmão, se todos tiverem acesso às informações cada um pode verificar o que é de seu conhecimento, todos juntos podemos muito. A Wikipedia consegue toda a qualidade que conhecemos por este trabalho social de cooperação e de mútua correção. O Pequeno Irmão pode fazer muito, acho que os maiores defensores da privacidade e de uma pseudo-liberdade de fazer tudo sem uma avaliação externa estão defendendo interesses escusos. Eu utilizei muito o site da Transparência Brasil para me orientar no primeiro turno das eleições e vou continuar usando aquelas informações.

(Acessos 170)